Nosso último passo na tragetória espinosana, tratamos primeiramente de Deus, que é causa sui e causa de todas as coisas; depois da mente humana que é efeito necessário dos modos, consciênte de si e de sua relação intríscica com o corpo, relação esta que pressupõe a passividade da mente no tocante às afecções que o corpo sofre quando relaciona-se com outros corpos. Nesta última parte (final para a prova) iremos tratar das afecções que constrangem nossa mente – iremos tratar das paixões.
Espinosa tratará de fazer uma ciência a partir das afecções humanas, tratando do tema da mesma maneira que dos capítulos anteriores – do método demosntrativo. Ele não falará a respeito das paixões, mas mostrará suas causas necessárias, que devem ser explicadas.
O homem não é resustado de uma união substancial, mas, é resultado de realidades que exprimem o mesmo ser, estas realidades, ou modos são: o corpo e a mente. O homem é parte imanente da natureza, não é contrário à ela, por isso devemos enxergar as paixões com naturalidade, pois não são perturbadoras.
Primeiramente, Espinosa distingue a causa adequada – aquela pela qual conhecemos e temos consciência -, e causa inadequada – aquela pela qual não conhecemos o efeito. Em nosso corpo há uma potência de agir que, efetivada, diz respeito a nossa autoconservação; Espinosa a chama de Conatus. Este diz respeito à potência natural de autoconservação; natual porque todos a possuem, assim, é essência atual do corpo e da mente; é uma força interna positiva e afirmativa, em outras palavras, é força de vida.
As afecções que ocorrem no corpo devido à ideia que temos dos outros corpos pode aumentar ou diminuir nossa potência de agir, ou nosso conatus. Quando somos causas inadequadas das afecções somos coagidos pelas afecções e, assim, somos passivos à elas. Enquanto nossa mente possui ideias adequadas ela é ativa; quando, porém, possui ideias inadequada somos passivos às afecções. Visto na Parte II que a mente capta muitas coisas a mais do que o corpo, ela está sujeita a inúmeras afecções.
As afecções são efeitos necessários que se seguem de nossa parte finita da natureza situada na infinitude do todo; assim, as paixões são causadas por objetos externos, diferentes de nós; visto também que as imagens causam u conhecimento confuso quando somos causas inadequadas agimos conforme as imagens que são causadoras das paixões descontroladas. Este movimento acontece em nossa mente porque o corpo não determina a mente de pensar, mas sim o próprio pensamento. Somente haverá destruição de alguma paixão por outra paixão, e nunca por alguma vontade ou escolha do sujeito.
Agora será explicado como somos afetados, ou seja, quais são as causas que nos afetam e as condições para tais afecções agirem como paixões em nós. Uma vez que todas as coisas devem perseverar no seu ser, tendendo sempre para a autoconservação, Espinosa afirma: no corpo, o conatus chama-se apetite; na mente, o conatus chama-se desejo. A essência do homem é o desejo; quando a mente é ideia do corpo ela é desejo.
Quando algo constrange nosso corpo irá, necessariamente, constragir momentaneamente a mente; a mente, por sua vez, irá se esforçar para imaginar algo que aumente seu conatus; quando a mente é afetada imagina a ideia daquilo que lhe afeta como presente, é esta ideia que proporciona o fortalecimento ou o efraquecimento do conatus. Por isso a mente se esforça para imaginar outra paixão que destrua àquela que enfraqueça seu conatus, a mente repuguina imaginar aquilo que diminui sua potência de agir.
As afecções do corpo são afecções da mente, em outras palavras, são imagens que se realizam como sentimentos que nos afeta; o desejo é um apetite de que se tem consciência. Dentre as três afecções originárias – alegria (aumenta a força do conatus), tristeza (diminuí a força do conatus) e o desejo (essência do conatus); a natureza das afecções varia segundo aquele que a provoca e aquele que é passivo, ou constrangido.
As formas de afecções podem variar devido ao caso: algo de semelhante ao objeto que afeta a outros pode nos afetar da mesma forma; se aquilo que nos trás alegria irá nos fazer amar ao objeto, mas, caso traga tristeza, irá nos fazer odiar o objeto que é causa. A mente considerará o objeto da mesma forma; ora, se no passado o objeto causara tristeza, tal afecção de ódio irá permanecer na memória da mente – como visto na Parte II.
Quando aquilo no qual odiamos é destruído, visto que só pode ser destruído por outra paixão, causa alegria; quando aquilo que amamos é destruído, causa-nos tristeza. A alegria é uma passagem para uma maior perfeição, pois aumenta nossa potência de agir; assim sendo, quando alguém nos afeta com alegriam tanto à nós quanto a quem amamos, amaremos a ele também.
Ora, sempre nos esforçamos para manter aquilo que aumenta nossa potência de agir, ou mantermos nossa alegria e destruir a tristeza; pois, também, se minha ação causa alegria serei causa desta afecção e sereo afetado da mesma forma forma – serei afetado pela alegria. Para todos os efeitos, quando amamos algo nos esforçamos para aquilo que amamos nos ame também, assim, o amor também é acompanhado de nossa ideia para com o objeto, mas somente quando há relação recíproca, e, com essa afecção nos glorificamos, pois causamos grande afecção na coisa amada. Mas, quando a coisa amada fica unida a outro sentimos ódio, e o sujeito da afecção que antes amava é afetado de tristeza. Pois, na medida em que nos alegramos por causar alegria a nosso semelhante e, tal alegria é diminuido na medida em que a coisa que amamos se junta a imagem de outra coisa; chamamos esta paixão de ciúme.
Uma vez que se deseja algo, relembrando-se daquilo desejado, deseja-se com a mesma intensidade que nas outras vezes. Caso aquilo que deseja lhe falte, o sujeito ficará triste. A esse desejo se referindo a fata do que amamos, chamam-se desejo frustrado.
O desejo quando nasce de qualquer afecção tem a mesma intensidade que uma afecção. Ora, visto que a tristeza diminuí nossa potência de agir, tudo o que o sujeito faz quando afetado de tristeza é afastar aquilo que diminuí seu conatus; quanto maior a tristeza, maior é o desejo de afastá-la.
Bom e mal na filosofia espinosana não são valores em si; por bom é todo o gênero de alegria, ou seja, tudo aquilo que aumenta a força do conatus; e mal é todo o gênero de tristeza que diminuí a força do conatus,
O ódio sempre é destruído pelo amor, este último sempre é maior; odiaremos sempre aquilo que causa ódio naquele que amamos. A alegria nasce da medida em que o ódio é destruído. Ambas afecções são livres, pois são percebidas por si mesmas independentes de outras.
O sujeito passivo às afecções exteriores pode ser afetado pelo mesmo objeto inúmeras vezes, visto que o corpo humano é afetado pelos corpos exteriores inúmeras vezes, assim, pode ocorrer que o que um ame, o outro odeie; o que um tem medo o outro não tenha.
Mas, quando a mente volta para si, no ato reflexivo, alegra-se; assim, aumenta o conatus. Na medida em que o homem que, antes se conhecia pelas afecções do seu corpo e pelas ideias de tais afecções, quando sua mente passa a se contemplar, passa para uma perfeição maior, pois compreende sua capacidade de agir, aumenta a força de seu conatus. Desse modo, o conatus se fortalece. Nessa condição o conatus se encontra com uma potência; essa potência refere-se a própria essência da mente, que afirma somente o que ela pode e o que ela é, em outras palavras, depois da mente se autoconhecer ela pode afirmar-se e estar acima das afecções que antes lhe confundiam.
Há tantas espécies de afecções que são compostas da alegria e da tristeza quanto as espécies de objetos pelos quais somos afetados. Em algumas vezes somos ativos às afecções, assim sendo, somos sujeitos da ação. Dentre as paixões, explicarei somente as mais importantes e que facilitarão a compreensão do texto:
I – Desejo – é a própria essência do homem; é concebida como determinada a fazer algo por algumal afecção; é um apetite da qual se têm consciência.
II – Alegria – passagem do homem de uma perfeição menor para uma perfeição maior; aumenta a potência de agir.
III – Tristeza – passagem do homem de uma perfeição maior para uma perfeição menor; diminuí a potência de agir.
IV – Amor – alegria acompanhada de uma causa externa.
V – Ódio – tristeza acompanhada de uma causa externa.
Portanto, uma afecção, ou, paixão é uma ideia inadequada, confusa, pela qual a mente afirma sua força de existir. É uma ideia confusa porque a mente é passiva quando têm ideias inadequadas. Quando temos ideias de nosso corpo expressamos o estado atual dele, sob o qual é afetado por um outro corpo exterior; e a afecção que se segue do corpo exterior pode auymentar ou diminuir nossa potência de agir, ou o conatus. A natureza de tais afecções (alegria, tristeza e desejo) expressam da passividade humana, mas quando o desejo parte para a ação devido a virtude da mente – passar do conhecimento inadequado para o adequado, efetivando na mente sua potência interna -, o desejo se torna consciente, assim, sabe-se o que se deseja, e, desse modo, o sujeito passa da passividade total para a atividade racional que media tal passividade aumentando a potência interna, o conatus. Não se trata de negar as paixões, mas de utilizar a Razão fazendo com que a mente torne-se consciente dos desejos e das afecções nas quais o corpo sofre.